sábado, 7 de agosto de 2010

Do outro lado do "balcão"


JAILSON SOUSA VÊ A UNIVERSIDADE COMO FOCO DE MUDANÇA
FOTO MARINA CAVALCANTE

Por Rafael Rodrigues

O geógrafo carioca e doutor em Educação Jailson de Sousa se constituiu, ao longo dos anos, num conhecedor privilegiado das contradições e demandas da periferia carioca. Foi ele um dos fundadores do Observatório de Favelas, ONG referencial no Rio de Janeiro. Um desafio maior o aguardava no outro lado do "balcão", o poder público. Hoje, como secretário executivo da pasta da Ação Social e Direitos Humanos, mostra entusiasmo para a efetivação de políticas, tanto simbólicas quanto materiais, capazes de reposicionar a estigmatizada figura do favelado ou subalterno.

Antes de subir ao palco do Centro Dragão do Mar neste sábado (7), para falar de sua experiência, ele conversou com o blog sobre as possiblidades e os limites das ações afirmativas. Confira trechos.

Pergunta - Alguns palestrantes que discutiram o contexto local do Rio colocaram a prevalência das políticas públicas repressoras e desse estigma da favela como um espaço que ainda precisa ser civilizado. Como vocês, educadores e atores sociais, lidam com essas linhas de força?

Jailson -
Procuramos trabalhar em dois níveis básicos: com o plano simbólico e o plano material. No plano, simbólico, procuramos reconceituar o conceito de favela. I Para o IBGE, a favela é um "aglomerado subnormal    ". É a visão oficial. Esse tipo de visão acaba resultando na naturalização da morte, que é a expressão maior desse ser, desse garoto negro, pobre, que tá fora da escola e do mercado de trabalho. A gente produz livros, vídeos, fotografias, textos variados. Ao rediscutir essa ideia, buscamos a inserção desse espaço na cidade de forma diferenciada. E o trabalho material. A gente cria processos, tecnologias sociais que possam ser usadas pelo poder público, transformadas em ações que possam romper com esses estigmas. O principal projeto é o Conexão de Saberes, criado pelo MEC mas por nós implantado no país inteiro.

Pergunta - No que consiste esse projeto?

Jailson -
O programa trabalha primeiro com a ação afirmativa. É fazer com que os garotos de origem popular que entram na universidade tenham direito a bolsa. Origem popular é negro, preto ou mestiço, índio, morador da periferia. É um conjunto de critérios que são avaliados pelos coordenadores para concederem as bolsas. Daí ele passa a atuar em três aspectos: as ações afirmativas, permanecer vinculado a seu lugar de origem - muitas vezes esse vínculo é quebrado, e desenvolver atividades nesse campo. O programa trabalha com território, trabalha com a questão do sujeito como um sujeito de direitos e trabalha numa perspectiva de levar em conta o simbólico.

Pergunta - A discussão sobre ações afirmativas na universidade se esgotou na questão das cotas?

Jailson -
Mais ou menos. Há outras coisas na universidade. Recuperação dos restaurantes universitários, construção de alojamentos e oferta de conteúdo específico para alunos da escola pública, principalmente dentro da escrita, do acesso ao computador e o desenvolvimento da capacidade de produzir conceitos.

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