JOÃO KULCSÁR DEFENDE RECICLAGEM DOS PROFESORES
FOTO MARINA CAVALCANTE
FOTO MARINA CAVALCANTE
Por Rafael Rodrigues
Desde que a fotografia, o cinema e a televisão passaram a compor nosso cenário midiático, a ideia de uma alfabetização visual já se mostrava pertinente. Afinal, há coisas que só se podem "dizer" com imagens. É bem mais recente, contudo, o interesse dos estudiosos pela questão. No Brasil, comunicólogos e linguistas tem se debruçado, aos poucos, sobre o assunto, num ritmo ainda incompatível com o volume de imagens por nós consumidas a todo momento.
Desde que a fotografia, o cinema e a televisão passaram a compor nosso cenário midiático, a ideia de uma alfabetização visual já se mostrava pertinente. Afinal, há coisas que só se podem "dizer" com imagens. É bem mais recente, contudo, o interesse dos estudiosos pela questão. No Brasil, comunicólogos e linguistas tem se debruçado, aos poucos, sobre o assunto, num ritmo ainda incompatível com o volume de imagens por nós consumidas a todo momento.
O coordenador do projeto Alfabetização Visual e professor do Senac/SP, João Kulcsár, sabe bem disso. Depois de um mestrado na Inglaterra - um dos países onde o tópico alfabetização visual é amplamente discutido - ele voltou ao Brasil e percebeu que teria de espalhar a mensagem: é possível ler, escrever e se fazer cidadão por meio das imagens.
Veja a seguir uma rápida entrevista com Kulcsár, palestrante desta quarta-feira (4) do Seminário Arte, Invenção e Experiências Formativas, no Centro Dragão do Mar. Ele fala sobre letramento visual e manipulação de imagens.
Pergunta - João, a ideia de alfabetização ou letramento visual tem entrado com força na universidade. Até áreas como a Linguística, historicamente preocupadas com a palavra escrita, tem aberto espaço, o que aponta para uma quebra de paradigma. Que impacto você enxerga nisso, em médio prazo, para os processos educacionais?
João Kulcsár - Há pouca coisa sendo feita no Brasil. É uma grande oportunidade. Em países como a Inglaterra, Estados Unidos, Nova Zelândia e Austrália, isso é muito discutido em seminários, encontros. Temos tentado fazer algo parecido aqui, mas está bem no começo. É um grande campo de atuação para quem quer discutir, e é aberto. Tem um outro campo também que é o da cultura visual. É esse campo que engloga antropologia, sociologia, publicidade, artes. As pessoas estão percebendo isso. Estamos ainda atrasados, mas é um bom caminho para se seguir.
Pergunta - Esse bombardeio midiático que a gente sofre hoje é capaz de fornecer uma espécie de letramento intuitivo para as pessoas? As pessoas já tem uma educação para as mídias, talvez não formal?
João - Todo mundo tem um grau de alfabetização visual. A ideia de alfabetizar visualmente é desenvolver isso e ser crítico em relação a esses processos. Se fotografia é escrever com a luz, você também pode aprender a ler e aí entramos na questão do letramento visual. Os jovens que chegam estão muito... Continuam, cada vez mais, saturados (de imagens). Eles tem de 5 a 20 mil imagens que consomem por dia. De uma forma ou de outra ele vai aprendendo. Mas como você vai organizar esse aprendizado? Como vai fazer isso de uma forma que seja aproveitada na escola pública, pelos professores de Língua Portuguesa ou Matemática? Você vai para a escola, aprender Matemática. Há muitas imagens interessantes e sedutoras (fora da sala), e quando você chega na escola, tem lá: "a, b, c, d..." Por que não pode usar imagem? O professor tem esse receio de usar imagem, porque ele não domina a técnica. É uma questão básica: técnica, estética e ética. Temos que discutir esse tripé. Não podemos também nos deixar seduzir pela tecnologia. Temos que desconstruir o ambiente, as ideias... Esse jovem vem, mas a imagem é mais "ambiente". Minha filha foi criada num ambiente de imagens diferente do meu. Mas, de todo mundo, isso precisa ser implementado na escola pública, de uma forma que desenvolva o letramento visual.
FOTO MARINA CAVALCANTE
Pergunta - Como você avalia o projeto em tramitação, no Congresso Nacional, que faria com que as imagens manipuladas digitalmente viessem com avisos aos consumidores? Essa é uma medida que tem sua eficácia?
João - Essa é uma questão de educação. Apesar disso, em outros países, como Portugal, as propagandas entram no ar com um aviso: "Informe Publicitário". Alguém pode alegar que isso não é necessário, porque as pessoas sabem... Não. É incrível como algumas pessoas acreditam naquilo que veem. Você viu os exemplos (da palestra)? Aquelas fotos mostram que a fotografia é muito da opinião do fotógrafo. Acho que é uma questão de educação, mas é preciso a regulamentação. A publicidade é muito largada no Brasil. É absurdo o que é feito para criança. Na TV a cabo, na hora das propagandas, o som aumenta, isso é uma agressão para a criança.
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