quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Troca e parceria na boca de cena

CHRISTINA DEMONSTRA OTIMISMO COM CENA UNIVERSITÁRIA
FOTO MARINA CAVALCANTE

Por Rafael Rodrigues

Demorou, mas eis que as universidades abriram a cortina da relação com os agentes artísticos e culturais. A política vem para ficar na forma de cursos superiores em artes cênicas e dança, por exemplo - a Universidade Federal do Ceará acaba de abrir os seus. Nesse diálogo, uma cena "singular, histórica, importante" se constitui, sinaliza a diretora, professora universitária e pesquisadora de teatro Christina Streva.

A vivência de Christina em três graduações públicas na área teatral - nas federais de Minas Gerais, Paraíba e agora no Rio de Janeiro - lhe permite avaliar a relação entre os cursos universitários e a ação de grupos de teatro. "Os jovens docentes estão trazendo, por meio da atividade artística, uma oxigenação sem precedentes para a academia", opina.

Foi justamente sobre o teatro de grupos, na perspectiva aberta pelas graduações, que a pesquisadora discorreu no Seminário Arte, Invenção e Experiências Formativas, nesta quinta-feira (5). Antes da palestra, ela concedeu entrevista ao blog. Confira trechos.

Pergunta - Na relação entre a academia e o fazer teatral por meio dos grupos, há uma efervescência?

Christina Streva - Com certeza. Acho que o momento é singular, histórico, importante. Acho que, por muitos anos, a academia se fechou dentro dos seus muros, se isolou, não se abriu para o diálogo com os agentes artísticos e culturais da comunidade. Acho que essa nova leva de profissionais, que estão entrando com todo o gás, esses jovens docentes, talvez, pela primeira vez na história do nosso país, estejam trazendo uma oxigenação para a academia, através principalmente das suas atividades artísticas, não abrindo mão de suas vidas artísticas em prol de uma vida acadêmica. Estamos num momento singular, onde essa dicotomia entre a academia e o artista está se dissolvendo pela primeira vez. Acho que os grupos são uma resposta para auxiliar nesse processo.

Pergunta - Você consegue enxergar um salto qualitativo no teatro que se tem feito, um teatro com mais densidade ou que proponha discussões mais interessantes?

Christina - Eu sou uma grande otimista, e acho que o momento não poderia ser mais favorável. Eu tive o privilégio de acompanhar mudanças muito grandes no Estado da Paraíba. Eu sei o que era a realidade da Paraíba há quatro anos atrás e o que ela é hoje. É inquestionável o avanço, é inquestionável tanto a quantidade quanto a qualidade das produções do teatro, da prática teatral na Paraíba hoje. E isso foi resultado da união da academia, que criou um curso de teatro - um bacharelado em interpretação e uma licenciatura em teatro - e a parceira com os grupos que se formaram nesse entorno, nesse processo.

Pergunta - Você passou por universidades públicas como a UFPB, a UFMG e agora está na Unirio. Em que condições esse trabalho é desenvolvido nas universidades públicas? São comuns queixas sobre falta de verbas. São condições estáveis, boas?

Christina - Estáveis não. Acho que obviamente existe muito a ser feito. Existem problemas em todos os lugares, tanto nos grandes centros quanto nas cidades que estão recebendo pela primeira vez esses cursos. Os desafios são enormes. A gente vem de um histórico de mais de uma década de degradação, de destruição do sistema público federal. Então, o que eu vejo é um grande avanço nestes últimos anos. É quase uma revolução silenciosa, porém demorada, como qualquer processo educacional ou artístico. Estamos no caminho, mas longe da perfeição, do que precisamos.

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