ELIANA: É PRECISO INTEGRAR ESPAÇOS À VIDA DA CIDADE
FOTO MARINA CAVALCANTE
Por Rafael Rodrigues
Dezesseis comunidades, 140 mil habitantes e alguns dos índices de criminalidade mais preocupantes do Rio de Janeiro. Esse breve raio-x do Complexo da Maré, na capital carioca, dá a medida do árduo trabalho a que se lançam ONGs e movimentos sociais dedicados ao fomento da arte e da cultura.
A questão que parece se impor, na verdade, é anterior. Há espaço para arte e cultura num ambiente socialmente vulnerável como esse? A diretora da ONG Redes de Desenvolvimento da Maré - Redes Maré e Diretora da Divisão de Integração Universidade Comunidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Eliana Sousa, atesta que são múltiplos e marcantes os projetos nessa área. O desafio, neste momento, é torná-los algo menos pontual e estabelecer relações orgânicas com as comunidades em que se situam.
Leia trechos de um bate-papo que tivemos com Eliana nesse sábado (7), antes de sua participação no Seminário Arte, Invenção e Experiências Formativas.
Pergunta - Alguns convidados que estiveram no Seminário, vindos do Rio, relataram experiências junto a comunidades e favelas. Se falou aqui de um novo momento que poderia se configurar a partir da presença das UPPs, as Unidades de Polícia Pacificadora. Elas poderiam se tornar unidades de políticas públicas. Você acha possível dar essa nova dimensão a uma ação governamental que é, historicamente, repressora?
Eliana Sousa - Acho que nas favelas em que as Unidades Pacificadoras estão presentes, o fato de você não ter determinadas forças locais atuando vai favorecer que muitos projetos - de arte, educação, lazer, esporte - venham a acontecer de uma forma mais republicana, de uma maneira mais aberta e talvez com maior participação da comunidade. Então é um momento em que vários projetos podem começar a se aproximar mais da população. Tem alguns projetos de arte que não chegam a essa população. Agora, acho que no Rio de Janeiro já existem muitos projetos de arte e cultura, que acontecem dentro das favelas, e que, de alguma maneira, essa situação vai ampliar algo que já existe e é inclusive um pouco a marca dessas áreas - trabalhar com arte e cultura.
Pergunta - Na tua experiência com as favelas da Maré, o que você pode relatar de mais relevante nesse sentido, de uma ação que já tem resultados?
Eliana - Na Maré temos várias experiências. E até antes do trabalho que a gente faz, como cresci lá, vivenciei alguns projetos como moradora na área de arte. Projetos muito pontuais, mas que existiam. A Maré teve algumas experiências, principalmente na área de dança que foram relevantes e deram frutos. A Lona Cultural hoje tá assumindo uma nova gestão, a cargo da organização que faço parte (Observatório de Favelas). E ela tá numa perspectiva diferente com o espaço público. A questão é que (lá) você não tem espaços públicos. Você está aqui no Ceará, num centro de arte público que está integrado à cidade. A rua é aqui do lado. Achei isso muito maravilhoso. O que acho que esse trabalho vem gerando é a possibilidade de você construir a cultura como um direito. O maior fruto que a gente tem, resultado desses últimos 13 anos de trabalho na Maré, é a possibilidade das pessoas vivenciarem a arte de outra maneira. Não apenas pontualmente, dentro de um projeto. Mas com a possibilidade de gerar uma criação que vai estar integrada àquela comunidade, àquela população.
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